
E você vê tudo aquilo indo embora sem ter horas para ver, todo o dia recolhido debaixo da droga de um cobertor sujo e fedorento. Enquanto você tomava seu banho de coquetéis e se drogava na banheira, o mesmo entregador de jornais estava te vendendo drogas explicitamente na rua dos véus de casamento e agonia.
Eu fui deixando aquele corpo marcado e coberto de sangue, deixei na cozinha, em cima da mesa de jantar. Minha mãe me perguntou o que era aquilo, e eu não soube responder, estava meio entorpecido e sem paciência para aquela velha. E fui embora pro meu quarto empoeirado e cheio de morfos, tentar dormir sentindo gosto de sangue frio.
Eu tentava dormir, e ouvia uma musica aparentemente velha, cheia de falhas como um disco arranhado, era apenas a velha mamãe ouvindo seus discos de piadas infames. Eu não podia reclamar, até por que, ela estava escondendo um dos meus maiores segredos, talvez um pouco de vodca ou venenos para ratos fizessem ela dormir um pouco.
Aquele corpo começava a cheirar mau, e eu não sabia o que fazer com aquilo tudo, deixei passar um pouco a vontade de ir embora de casa. Aquele sentindo que minha mãe quis que eu entendesse, foi apenas algo para parar de tudo o que eu fazia, apenas queria que eu fosse um rostinho como todos os outros, ou apenas a vontade de querer me ver dentro de uma camisa de força.

Hoje de manhã, quando os médicos foram me buscar em casa para um passeio matinal, pleno domingo de manhã, seria uma boa ir pra igreja ou até mesmo pra o bar. Minha mãe não deixou, fizeram com que eu ficasse preso como ela queria, dentro da camisa de força. Mesma manhã que as pessoas vão ver o corpo que eu deixei sobre a mesa.
Me trancaram num quarto branco, sem janelas e sem comida. Me deixaram sem facas, tesouras ou até mesmo um fio de aço. Tinham medo de que eu fizesse algo, me taxaram como um psicopata, apenas por eu não querer pensar na mesma coisa que todos, apenas por eu querer tudo da minha forma. Me deixaram em casa, mas a minha mãe me mandou embora.
O silêncio daquela noite, quase madrugada, me deixava com frio, debaixo da ponte, dentro de um buraco feito por cães. E tudo era tão inocente quanto a minha mente, cada passo de meus dias eu contava com a minha forma de agir. Talvez isso tudo tivesse me tornado um tipo de monstro, sou seu tipo de monstro, o mesmo monstro que deixou você na mesa.
Abraão Da Silva
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